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Profissionais pedem interdição da emergência onde paciente foi reanimado no chão por falta de estrutura física

Médicos denunciam que faltam profissionais e estrutura física é deficiente no maior centro de cardiologia de SC no mesmo momento em que governador anuncia que não contratará médicos aprovados em concurso público

Imprensa repercute falta de recursos humanos para a saúde. Confira AQUI.

Governador diz que há médicos suficientes e não vai chamar aprovados em concurso público. Saiba mais AQUI.

Uma denúncia encaminhada ao Sindicato dos Médicos do Estado de Santa Catarina (SIMESC), ao Conselho Regional de Medicina (Cremesc) e ao Ministério Público (MPSC), relata em detalhes o caos na emergência do maior hospital de cardiologia do Estado. A falta de recursos humanos, de leitos e equipamentos expõe pacientes à morte e profissionais a riscos diários no Instituto de Cardiologia de Santa Catarina (ICSC). Não é raro que somente um médico esteja de plantão na emergência onde em dezembro de 2011, por falta de estrutura física, um paciente teve que ser reanimado no chão.
“No mesmo momento que o governador anuncia que há médicos suficientes na rede estadual e que não irá chamar os aprovados em concurso público, somos surpreendidos com esse relato que nos leva a crer que o governador precisa sair de sua zona de conforto e visitar os hospitais sem maquiagem ou precisa ser melhor informado por seus assessores da grave situação a que está exposta a população catarinense, aquela que lhe deu voto de confiança nas eleições há dois anos”, afirma Cyro Soncini, presidente do SIMESC.
O relato e as fotos foram feitos pelos profissionais que trabalham na unidade de saúde. “São imagens e detalhes que chocam porque mostram uma realidade que muitas pessoas assistem na TV e acham que só acontece nas regiões mais pobres do Brasil. Mas não. Estamos falando de um hospital referência localizado na Grande Florianópolis, em Santa Catarina, o Estado tido como modelo para o país”, acrescenta Cyro.
De acordo com o presidente do Sindicato, uma audiência com o governador será solicitada ainda essa semana para tentar convencê-lo de que é mais do que urgente que a saúde seja elevada à condição número um na gestão estadual.
“O governo está preocupado em tirar a saúde de sua total responsabilidade, transferindo a gestão para as organizações sociais. Somos totalmente contra. Isso representará a precarização do trabalho na saúde. Precisamos sim, efetivar o mais rápido possível os aprovados no concurso realizado este ano e imediatamente dar garantias dignas de atendimento à população e dignidade de trabalho aos profissionais da saúde. Temos que sair do discurso de que médico não trabalha porque quem é concursado bate ponto e se o governo não está dando conta de fiscalizar seus servidores temo que estejamos num caos muito maior do que o que é apresentado”, acrescenta.
Quase ideal
O chefe de serviço do ICSC, o médico cardiologista Tarcis Sawaia El Messane relatou em reunião no SIMESC nesta segunda-feira, 18 de junho, que seriam necessários pelo menos mais 13 médicos para atender a demanda da emergência. “Estamos nos expondo, colocando em risco os pacientes e os profissionais”.
Tarcis confirma que o problema não é somente a falta de médicos. “Também seria necessário dobrar o número de profissionais da enfermagem. No caso dos médicos não vemos como isso poderá ser resolvido tendo em vista que o concurso realizado este ano não previu vagas para cardiologistas no ICSC”, conta.
Interdição
Os médicos requerem que o MP, o Sindicato e o Conselho de Medicina forcem a secretaria estadual de Saúde, que também foi informada da situação na emergência do ICSC, a contratar imediatamente médicos e profissionais de enfermagem, adequar o espaço físico da emergência, extinguir a unidade semi-intensiva com a criação de respectivos leitos em unidade coronariana. Cita o documento dos médicos que “na impossibilidade de observância das solicitações de forma imediata, requer-se a suspensão imediata do atendimento na emergência do ICSC, com encaminhamento das emergências cardiológicas para outros hospitais da região, tendo como embasamento legal o capítulo II do código de ética médica”.
Partes de um drama
O relatório dos médicos além de apresentar o drama vivido diariamente na emergência do ICSC, aponta itens do código de ética médica e trechos de normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
De acordo com os médicos, o ICSC tem 10 leitos de terapia intensiva que atendem os casos de internação clínica, como o infarto e o pós-operatório de cirurgias cardíacas. Devido à falta de leitos, a emergência disponibilizou seis leitos para uma unidade de atendimento chamada “unidade semi-intensiva” que recebe diariamente pacientes com infarto e quadro de instabilidade hemodinâmica e com frequência pacientes pós-operados de implante de marcapasso e outras cirurgias por falta de leitos.
O relato aponta ainda que aos poucos a semi-intensiva transformou-se numa unidade de terapia intensiva, porém com o registro de apenas um médico atendendo em alguns períodos.
Além da falta de recursos humanos, os médicos relatam os problemas relacionados à estrutura física. A unidade semi-intensiva não é fechada e não tem limite máximo de ocupação. Os seis leitos estão quase que diariamente ocupados e na impossibilidade de transferência para outras unidades de terapia, os pacientes são acumulados, podendo chegar a 11 no mesmo espaço.
Risco de morte
Outro problema apontado pelos profissionais são os equipamentos. Os monitores cardíacos da unidade semi-intensiva e os eletrocardiogramas frequentemente apresentam problemas. Outra questão grave é que os eletrocardioógrafos deixam de funcionar por várias horas na emergência do maior hospital de cardiologia de Santa Catarina, impedindo o diagnóstico e adequado tratamento de várias doenças cardíacas, expondo pacientes a risco de perder a vida.
A falta de espaço na semi-intensiva causa outro problema sério aos pacientes. A falta de espaço entre os leitos, sejam eles macas ou cadeiras restringe a privacidade dos pacientes e facilita a propagação de doenças infecto-contagiosas, contribuindo também para surtos de bactérias resistentes. Porém isso ainda não é o mais grave. Esses pacientes normalmente estão em recuperação de infarto agudo do miocárdio e angina e estão internados em cadeiras e/ou macas, sem o monitoramento cardíaco e equipe médica e de enfermagem suficiente para atendê-los.
Atendimento no chão
O cumprimento da missão de salvar vidas não impediu que a equipe de saúde do ICSC salvasse a vida de um homem no dia 13 de dezembro de 2011. Por falta de estrutura física, o paciente teve que ser reanimado no chão pela equipe de sete profissionais e precisou permanecer em uma maca emprestada na unidade por falta de leitos em outros centros de terapia intensiva. A imagem do atendimento no chão consta do documento entregue ao SIMESC, CREMESC e MP.
Escolhendo pacientes
No documentos os médicos relatam outro drama. Nos períodos em que há um único médico na emergências, não são raras as intercorrências de pacientes internados ou em observação. Neste caso, o cardiologista precisa deixar de prestar atendimento aos pacientes com quadro emergencial quando chegam por demanda espontânea. Como único cardiologista na emergência, o médico é obrigado a escolher o paciente com o quadro mais grave para realizar o atendimento.
Mais problemas
Se os pacientes estão expostos a problemas além dos de saúde, os profissionais também. Doenças ocupacionais são frequentes pelas condições inadequadas de trabalho, principalmente as psiquiátricas, situação que piora o quadro de quem não se afasta para o trabalho que amplia a jornada de atividades para cobrir déficts de recursos humanos, perpetuando os problemas.
 


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