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11-07-2008 - Médica presa por crime de aborto em Lages

Uma semana depois da prisão pela prática de abortos, da estudante de enfermagem Anelise Camargo de Souza Alves, 31 anos, a polícia prendeu ontem, mais cinco suspeitos de envolvimento com os crimes. A médica Lisiane Borges Martins, 32 anos, o namorado dela, Juliano Oliveira Lima, 25 anos, Juliano Camargo de Souza, 28 anos, Letícia de Liz Flores, 23 anos e Juliano Nunes, 32 anos, irmão, cunhada e ex-namorado de Anelise, respectivamente.
O cumprimento dos mandados de prisão e de dois mandados de busca começaram no início da manhã, sob orientação do delegado Luiz Ângelo Moreira. No apartamento de Lisiane foram presos ela e o namorado, por volta das 8 horas. O desdobramento se deu também com buscas no apartamento e no consultório da médica, onde foram apreendidos documentos e um computador.
O delegado disse que não foram encontrados medicamentos ou instrumentos que indicassem a prática de aborto. Mas confirmou que a médica foi apontada por Anelise como uma das integrantes na prática do procedimento e na venda de medicamentos abortivos como o Cytotec. A médica com especialidade clínica geral fazia atendimento em um posto de saúde, no consultório e pelo Programa de Saúde da Família (PSF).
O cumprimento dos demais mandados de prisão ocorreu durante o dia na casa dos acusados. “O envolvimento deles nos crimes era muito parecido. A Anelise indica que o medicamento proibido era comprado por ela no Paraguai”, disse o delegado. Ele mantém as investigações para apurar de que forma era financiada a compra dos medicamentos. Em depoimento Anelise confessou ter participado de quatro procedimentos abortivos.
Ela mantinha contatos também por telefone e Internet, com uma rede de distribuição do medicamento. E admitiu ter feito várias vendas de Cytotec. Pelo que apurou o delegado, os abortos eram realizados há cerca de um ano. E as investigações se estenderam por cerca de dois meses.

O esquema 
De acordo com o depoimento de Anelise, primeiro, ela induziu o irmão Juliano Camargo de Souza a participar dos crimes. Como não deu certo acabou convencendo o namorado, o vendedor Juliano Nunes, que estava desempregado e foi convencido a abrir uma conta bancária. Ele passou uma procuração a ela para movimentar os “negócios”. Depois de algum tempo ela teria ramificado os crimes com a médica Lisiane Martins e também do namorado da médica, Juliano Oliveira Lima. “Eles agiam sempre em dupla. Mas isso não caracteriza formação de quadrilha. No flagrante e no inquérito eles foram indiciados no artigo 126 do Código Penal que é aborto, no artigo 33 da Lei 11.343 que trata o princípio ativo do Cytotec como droga por conter o Misoprostol e isso caracteriza tráfico de drogas”, explicou Luiz Ângelo Moreira.
Os acusados serão arrolados também pelo artigo 273 do Código Penal, que é a proibição de venda de produtos alterados sem registro. “Essas são penas de reclusão e todas inafiançáveis”, observou o delegado. Pelo crime de aborto a pena varia de dois a quatro anos de reclusão. Pelo crime de tráfico a pena oscila entre cinco e 15 anos e pela venda de produto adulterado sem registro pena de dez a 15 anos de prisão.
Anelise revelou à polícia que os abortos eram realizados até o terceiro mês de gestação. Apesar das evidências e detalhes descritos por Anelise, todos os presos ontem negaram participação nos crimes. Numa próxima etapa das investigações a polícia pretende localizar as pacientes que realizaram os abortos. E há a possibilidade de alguma ser menor de idade.

Cela especial
Com exceção da médica, os demais envolvidos nos abortos e venda de medicamentos abortivos ficarão em cela comum no Presídio Regional de Lages. Eles foram ouvidos, um de cada vez. A última a depor foi Letícia de Liz Flores, que deixou a Central de Polícia por volta das 17h20min escoltada por dois policiais. Ela está inclusive amamentando um bebê de três meses.
Novos desdobramentos podem ocorrer com as prisões dos demais envolvidos. O trabalho policial continua, agora para identificar e localizar as pacientes que contrataram os abortos. A polícia quer saber ainda, quanto as mulheres pagaram para retirar o feto e chegar ao número exato de abortos.

Fonte: Correio Lageano - 11-07-2008


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